2020 foi o ano da pandemia do Covid-19 no Brasil. O que nem todo mundo sabe é que também foi o ano em que a polícia mais matou no país, desde quando o indicador das mortes produzidas por policiais começou a ser monitorado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2013).
Antes da confirmação do primeiro caso de contágio pelo vírus, no dia 16 de fevereiro, homens jovens negros já perdiam a vida naquele ano por disparos de arma de fogo efetuados por agentes de segurança, como William da Silva Melo, 19 anos, morador do Ibura, na Zona Sul do Recife. Munição comprada e salários de servidores pagos com dinheiro público.
No Brasil de 2020, 6.416 pessoas foram vítimas da letalidade policial. Número que cresce ano após ano. Oficialmente, esses casos são descritos nas estatísticas como Mortes Decorrentes de Intervenção Policial, nomenclatura que sugere confronto ou uso legítimo da força, inclusive a letal. Mas não é bem assim, como mostram os casos visibilizados aqui nessa reportagem especial.
Dados obtidos pela Rede de Observatórios de Segurança via Lei de Acesso à Informação, junto ao governo do Estado, revelam que, das 113 pessoas mortas pela polícia em Pernambuco em 2020, 109 eram negras. No Recife, foram 14 vítimas. Todas eram negras.
Este cenário revela o racismo estrutural que sustenta a lógica e as ações do poder público no campo da segurança pública.
Historicamente, tem sido assim.
"O Judiciário não está preparado para ter policiais no banco dos réus porque não é essa a figura que eles estão acostumados a julgar"
– Maria Clara D’Ávila, advogada
William
Um tiro no peito
Joice Firmino da Silva, 40, estava de plantão no hospital onde trabalhava como copeira quando sentiu uma dor no peito na madrugada do dia 12 de janeiro de 2020. “Era como se um ferro estivesse entrando…”.
Jhones
Morte pelas costas,
sem chance de defesa
Jhones estava indo de carona na moto de um amigo buscar uma ferramenta na casa da avó para consertar a máquina de lavar de uma tia. Morreu com um tiro na nuca, sem qualquer chance de defesa, durante uma abordagem de policiais militares do 6º Batalhão da PM
Marcone e Deyvison
Uma família inteira destroçada
Jovens trabalhavam de vigia no viveiro de camarão da família localizado atrás das casas das vítimas, quando foram encontrados e baleados por PMs que vestiam preto
Marcos Laurindo
A dor da espera
por Justiça
Lúcia rogou para que o soldado não disparasse, abraçando-o pelas costas. Foi empurrada contra o armário. Viu e ouviu quando dois dos três tiros acertaram o filho.